Com 39 histórias de adoção, a publicação chama atenção às crianças mais velhas, que chegam a passar a infância inteira esperando por um lar.
A fim de relatar histórias de amor e companheirismo envolvendo pais adotivos e crianças mais velhas, o instituto Aconchego lançou seu primeiro livro, “Adoção tardia”, em janeiro deste ano. Assim, a coletânea apresenta 39 relatos de pais que fazem parte do grupo e trocam juntos experiências sobre adoção.
A maior parte das narrativas, como expresso pelo título da publicação, relata a relação de pais que optaram por conhecer seus filhos já mais velhos. Dessa forma, a iniciativa dá visibilidade às crianças maiores de oito anos que esperam um lar.
A primeira tiragem de “Adoção tardia” contou com mil cópias. De acordo com Fátima Moraes, voluntária do grupo e uma das autoras do livro, a ideia surgiu nas rodas de conversa entre pais. Em entrevista ao Correio Braziliense, ela, que também passou pela experiência de adoção tardia, afirma que educar seres humanos é difícil, entretanto reconhece que a conversa entre pais ajuda no processo.
Três filhos em dez meses
Uma das histórias que integram o livro é de Denise Mazzuchelli, de 37 anos. Para ela, ser mãe era um sonho. Contudo, mesmo que a princípio seu marido não quisesse ter filhos, eles conversavam em adoção quando ainda namoravam. Mas, depois de oito anos juntos, a vontade aumentou ainda mais.
“Nosso primeiro filho já estava nascido, só precisava achar”, conta a psicóloga ao Correio Braziliense. Dessa forma, o casal aplicou para adoção de uma criança de até oito anos. Dez meses depois, eles encontraram seus filhos: Yasmin, que tinha acabado de fazer oito anos, e João, seu irmãozinho. Apesar de quererem só uma criança, Denise e o marido adotaram os dois.
Contudo, a história deles com a maternidade e com a paternidade não parou por aí! Dois meses depois da chegada de Yasmin e de João, a psicóloga começou a sentir contrações. Assim, nove meses depois nasceu Morena, a terceira filha do casal.
“Em dez meses, tive três filhos de idades diferentes”, expõe Denise ao jornal. Ela conta que às vezes as pessoas olham a família, com as crianças de 14, 7 e 3 anos, e lhe dizem que ela demorou entre um e outro filho. “Você não faz ideia de que fui atingida por uma onda de filhos”, responde, sorrindo.
Espera por um lar
No Brasil, existiam 42,9 mil pretendentes para adoção no ano de 2019, segundo relatório do Cadastro Nacional de Adoção. Porém, 93,2% dessas famílias não queriam crianças com mais de oito anos, mesmo que 62,9% das crianças no Cadastro Nacional de Adoção tivessem essa idade ou fossem mais velhas.
Ao site Observatório do Terceiro Setor, o juiz da Vara da Infância e Juventude de Guarulhos, Iberê Castro, expõe que o imaginário popular contribui para esse índice. “Quando você trata de adoção com uma pessoa, ela não pensa em um adolescente. No imaginário popular está a imagem de um bebê”, afirma.
“Na adoção tardia, o ritmo da vinculação é diferente. Mas olho para eles e a gente se vê uns nos outros”, explica Denise.
Reportagem de Isabela Stanga, sob supervisão de Ana Flavia Silva