Eu sou a pessoa que tenta de todas as formas desencorajar alguém que me conta que quer comprar um filhote. Veja: não há nenhuma maldade em você desejar especificamente ter um poodle, porque é pequeno, um são bernardo, porque é grande, um golden ou labrador, porque são dóceis e brincalhões. Eu até entendo sua preferência pela raça com base nas características dela (e acredito, sim, que a cunhada da sua vizinha não teve nenhuma maldade em deixar a yorkshire dela cruzar com o cãozinho da sua prima e está vendendo a ninhada que acabou de nascer). O grande problema está num mundo paralelo onde a maldade reina. Esse mundo está muito próximo de nós, mas insistimos em fechar os olhos para ele. Viramos o rosto, fingimos que ele nem existe afinal: um mundo de abandono, de lucro a base de vidas, de crueldade – daquele tipo que só o ser humano é capaz de fazer.
A Organização Mundial de Saúde estima que há 30 milhões de animais abandonados no país. Cerca de 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. É claro que é uma estimativa, não há como se contabilizar exatamente. Mas se você fizer um cálculo bem básico sobre a procriação de animais em situação de rua, pode chegar a conclusão de que esses números devem ser muito maiores. Clica aí na imagem e olha só quantos descendentes um casalzinho pode gerar:
É muito bicho, né, gente? E é um ciclo sem fim: uma ong ou protetor tira um da rua, nascem oito. Tiram cinco, nascem 7. E vão ficando em gaiolas esperando adoção, esperando carinho, esperando comida. Esperando que alguém tenha a empatia de olhar para eles e levá-los para casa – como alguém um dia fez, porém desistiu e acabou os largando a própria sorte. Por isso, quando alguém racionalmente opta por deixar que seus animais cruzarem “para ficar com um filhote e doar ou talvez vender os os outros” me parece meio maluco e egoísta, sabe? Maluco porque já existem milhões de animais “tentando a sorte” de serem adotados. Egoísta porque se você quer de retorno a presença de um filhotinho ou da grana que ele lhe trará você deixa completamente de lado o que o animal em si sente (ou você acha que tudo bem pra cadela ou pra gata ver seus filhotes serem tirados de perto dela de uma hora pra outra?).
“Ah, mas eu não tenho culpa, agora sou obrigado a adotar os bichos da rua porque os outros abandonaram?”. Não, você não é obrigado. Mas quando você decide comprar um animal você financia um mercado que trata vidas como mercadorias. E pode, inclusive, financiar um mercado extremamente cruel de procriação. Fêmeas são obrigadas a procriarem a cada cio. São colocadas em aparelhos que as mantém presas para que o macho chegue e cruze sem que ela sequer possa reagir. Não vêem a luz do sol, não sentem um afago na cabeça. Vivem em condições precárias para que alguém possa comprar um filhotinho cheiroso no petshop. Não vou colocar imagens aqui, se tiver curiosidade (e estômago forte) dê um google.
Mas eu vou insistir sempre: adote. Há muitos animais de raça esperando adoção, também, se você insistir na ideia de que quer uma característica específica. Há muitos vira-latas com características herdadas de animais de raça, também. Há muitos tamanhos, há muitos temperamentos, cores, tipos de pelagem. Há 30 milhões de animais esperando alguém como você.
E você ainda economiza uns 2 ou 3 mil reais.
Em Curitiba, algumas ongs sérias em que você pode encontrar um amigo para chamar de seu:
Amigo Animal – mais de mil cães são mantidos em uma chácara na região metropolitana de Curitiba. A ong promove ações entre amigos com sorteios de brindes (tipo bingo), uma vez por mês, para arrecadar grana e manter a bicharada. É possível adotar um animal e levá-lo para casa ou também fazer uma adoção virtual, contribuindo todo mês com uma quantia. Eles também fazem mutirões de banho (e aí você pode ir até a chácara ajudar a dar banho nos cães <3).
Beco da Esperança – cerca de 500 gatos e 100 cães moram no abrigo que sobrevive de doações e do lucro obtido pelo Bazar do Beco. Para adotar um animal, é preciso preencher um formulário e passar por uma avaliação prévia das voluntárias (para saber se você tem condições básicas de dar ao animal uma vida digna, se ele não correrá o risco de ser abandonado novamente e, principalmente, se a casa onde ele vai morar é segura – no caso de gatos é preciso colocar telas nas janelas e impedir acesso à rua, por exemplo).
Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba – SPAC – A SPAC resgata animais em situação de risco. As histórias são tristes e chocantes, em sua maioria. Depois de tratados, os bichos ficam a espera de adoção. E eles têm de tudo: cães, gatos, cavalos, galinhas, patos. Tudo é mantido com doações, lucro de eventos e também da clínica veterinária mantida por eles (é inclusive um bom local para atendimento emergencial e “mais em conta”).