Ana Júlia Monteiro, que competiu com estudantes de 94 países, é a única aluna da América Latina finalista na premiação.
Desde pequena, Ana Júlia Monteiro é apaixonada pela robótica. Aos seis anos, queria fazer parte de uma das equipes escolares, mas não podia por causa da idade. Assim, ela montou um projeto e apresentou para a escola: no ano seguinte, entrou para o time.
Hoje, essa paixão se converteu em resultado internacional: ela é a única estudante da América Latina a integrar o top-10 do Global Student Prize, conhecido como Nobel da Educação. Com 18 anos, ela cursa atualmente o 3º ano do Ensino Médio e competiu com outros 3,5 mil alunos de 84 países.
Este foi o primeiro ano em que o prêmio permite a participação de alunos, pois antes era voltado somente aos professores. O Global Student Prize analisa toda a carreira do estudante até chegar às avaliações de seu projeto, que deve ter impacto positivo ao meio ambiente, justiça, saúde ou pode incluir formas de diminuir a pobreza.
Projeto premiado
Moradora das vilas pesqueiras de Maceió desde criança, Ana Júlia decidiu criar um projeto que pudesse contribuir para a sua cidade. Desse modo, um de seus principais trabalhos busca reutilizar a casca do sururu, animal cuja pesca é a principal fonte de renda das regiões mais pobres da capital.
Geralmente, o descarte destas cascas acontece ao ar livre, nas ruas da cidade. Porém, Ana Júlia e sua equipe encontraram um modo de aproveitá-la, construindo telhas com esse material.
Em entrevista à BBC Brasil, ela conta que a ideia possui um viés empreendedor. “Quem passa perto da Lagoa Mundaú vê a pesca, a caça, mas também percebe que muitas cascas ficam nas ruas. Então, nós desenvolvemos essa telha com o pó como uma forma de preservar o meio ambiente e também de dar mais possibilidades a essas pessoas”.
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Paixão que gera resultados
Apesar de ter experiência com robótica desde pequena, a estudante jamais imaginou ser contemplada no Nobel da Educação. “Eu não imaginava que eu, de Alagoas, seria a única representante da América Latina. Agora as pessoas veem que eu posso mudar o mundo e eu acho que posso ajudá-las”, afirmou para a BBC.
Além do projeto premiado, o da casca do sururu, Ana também desenvolveu outras ideias ao longo de sua trajetória. Um deles é o Sustainable Aerator, que busca aumentar a qualidade da água que os animais recebem, sobretudo na produção leiteira. Este e outros projetos são, é claro, fruto de sua dedicação intensa pela robótica.
“Desde muito nova, eu fico aqui na escola durante dias. Já dormi aqui, já passei 48h acordada para resolver algumas coisas dos nossos projetos”, expõe ela. “Vinha nas férias, venho sempre, na verdade. E como esse é meu último ano, fico pensando: ‘Como vai ser daqui para frente, tendo que enfrentar o mundo quase sozinha?’ Mas sei que vai dar certo”.
Reportagem de Isabela Stanga, sob orientação de Ana Flavia Silva.