O “Real Braids” funciona há um mês e tem mais de 600 pessoas cadastradas. Aplicativo gera renda para trancistas e ajuda clientes a aceitarem os cabelos naturais.
Mais do que uma questão estética, o cuidado com os cabelos é sinal de representatividade para as mulheres pretas. As tranças, por exemplo, eram usadas nos reinos africanos. Elas são, então, uma forma de resgatar a cultura negra. Dessa forma, Gabriel Moreira desenvolveu o Real Braids (tranças reais, em português). O aplicativo une trancistas e mulheres negras em todo o Brasil, a fim de facilitar o serviço.
O aplicativo já conta com 660 usuários. O desenvolvedor de apps conta ao portal Universa que se inspirou em sua namorada Giovanna, que é trancista, para criar o Real Braids.
Assim, ele percebeu que o contato entre clientes e profissionais não era fácil. Isso porque a maioria das trancistas trabalham sozinhas e vão até a casa das mulheres para fazer o atendimento. “Comecei a notar que havia uma deficiência no atendimento desse tipo de profissional, que acabava perdendo clientes por não ter uma forma organizada de contato”, explica.
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Mais sobre o aplicativo
Gabriel Moreira desenvolveu um protótipo do Real Braids em três meses. A primeira versão, ainda em fase de teste, foi lançada em novembro de 2020. Agora, a versão oficial do aplicativo funciona há um mês.
Desse modo, o cliente se cadastra no Real Braids e procura o trancista mais próximo de sua localização. Ele passa as informações do penteado e pede o agendamento. O profissional recebe o pedido, porém pode aceitar ou não. Se sim, o trancista repassa ao cliente o preço do atendimento. Assim, dependendo do material, do tipo de trança e da cor, o serviço pode custar de R$ 150 a R$ 400.
Representatividade de mulheres negras
Além da beleza, o cuidado com os cabelos é uma questão de representatividade para as mulheres negras. O estereótipo europeu foi visto como “padrão de beleza” por muitos anos e ainda impacta a sociedade atual. Isso reprime a expressão natural das meninas pretas, que desde sempre ouvem que devem alisar os cabelos. Desse modo, aceitar a forma natural é símbolo de resistência. Assim, as mulheres podem reconhecer a ancestralidade e a cultura africana.
As tranças eram usadas nos reinos de África. Elas indicavam a posição social, idade, estado civil e a religião dos moradores. Além disso, alguns tipos de tranças, como as nagôs e as fulas, conduziam mensagens. Por meio do penteado, os negros escravizados reconheciam as etnias uns dos outros e combinavam rotas de fuga.
“Muitas meninas pretas alisam o cabelo desde a infância e desconhecem seus cabelos naturais. As tranças vêm como uma das formas de iniciar a transição capilar”, afirma a empresária e ativista Monique Evelle, em entrevista ao portal Universa.
Ademais, Monique celebra o Real Braids por ajudar as trancistas em seu trabalho. Assim, o aplicativo gera renda para as mulheres negras impactadas pela pandemia.
Reportagem de Isabela Stanga, sob supervisão de Ana Flavia Silva.