Há dois meses, Bruno Manhães Ribeiro, de 35 anos, tem oferecido cortes gratuitos a pessoas em situação de rua. Carioca, ele se mudou para Curitiba-PR há dois anos, fez um curso de barbeiro e resolveu aproveitar o aprendizado de uma maneira diferente. “Eu via muita gente com barba grande nas ruas. Eu coloquei um banquinho no carro, comprei equipamentos. Vejo que só no corte de cabelo, numa música que coloco e que há muito tempo eles não ouvem, eles ficam alegres”, conta.
Pelo Instagram, Bruno Manhães criou o perfil Bruno Barbeiro, que mostra um pouco da sua rotina de cortes de cabelo pela cidade. Ele chega no local, coloca o avental, luvas, prepara a maquininha, deixa o banquinho num local seguro e fixo. Bruno então convida as pessoas que passam pela região a fazer um corte de cabelo. Muitos ficam receosos, mas acabam aceitando. “A maioria, quando você para pra conversar, você vê que tem estudo, família, que já teve um bom trabalho. A pandemia veio e, quem já usava algum tipo de droga, acabou caindo e hoje está no mundo”, analisa o barbeiro.
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O corte de cabelo, um aparo na sobrancelha, na barba. Mas Bruno também faz as pessoas em situação de rua voltarem no tempo, para uma época feliz. Para que o corte de cabelo seja também um momento alegre, Bruno pede para o “cliente” escolher uma música especial, que não ouve há anos, enquanto realiza o corte. “Esses dias cortei o cabelo de um colombiano. Só de ouvir a música do país dele, mudou o dia. Ele mal conseguia parar na cadeira”, relembra.
Vidas invisíveis
Bruno oferece os cortes gratuitos todos os dias. Ele passa por diferentes bairros de Curitiba, especialmente os mais vulneráveis socialmente. Durante o pouco tempo em contato com as pessoas em situação de rua, ele percebeu o quanto elas são ignoradas. “Sei que muita gente tem receio, medo deles. Eles pedem água, as pessoas negam. Teve um que me contou que chegou a tomar água de poça de chuva. Ele pediu água para uma vizinha da região, mas ela recusou. Disse que a água estava muito cara para dar a ele”, revela, triste com a situação.
O barbeiro, na tentativa de ajudar quem mora na rua, tem comprado cobertores, meias e capas de chuva descartáveis. “Eles ficam na chuva. Ficam todos molhados até se secar”, explica.
Para dar mais condições dignas, Bruno quer ir adiante com o projeto. A ideia é comprar uma van ou um micro-ônibus e personalizar. “Se der, queria colocar um chuveiro para eles poderem tomar banho, colocar uma roupa, um par de meia. Tudo com doação. A gente sabe também que, não são todos, mas se você der coisa muito nova eles vão trocar pela droga”.
“Não tem dinheiro que pague”
Bruno Manhães sempre teve esse coração generoso. Quando morava em Niterói, no Rio de Janeiro, ajudou os moradores de Petrópolis. A cidade sofreu com uma série de enchentes e deslizamentos em 2022. A tragédia resultou na morte de 233 pessoas. “Fui, comprei coisas. Levei para o Batalhão de Polícia. Eu sempre gosto de fazer coisas assim, em qualquer lugar que eu more”, conta.
Com pessoas em situação de rua, Bruno acredita que eles também precisam de ajuda e apoio. “São humanos igual a todo mundo. Alguns, depois que faço o cabelo, me pedem um abraço. Muitos que param para conversar tem mais estudos que a gente. Eles só estão passando por uma fase. Aqui eles são invisíveis para muita gente”.
Ajude o barbeiro de rua!
O trabalho de barbeiro pelas ruas de Curitiba vai continuar. Quem quiser ajudar Bruno com o trabalho, pode doar roupas, cobertores e meias. A contribuição em dinheiro pode ser pelo Pix barbeiroderuaribeiro@gmail.com.
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