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Catarinense vai representar o Brasil nas Olimpíadas do Xadrez, na Rússia

Em entrevista para o Tudo Já Existe, Ellen Larissa Bail ressalta a importância das mulheres no esporte e conta expectativas para o mundial.
Ellen Larissa Bail ficou em quarto lugar no campeonato brasileiro, conquistando assim a vaga olímpica. Em entrevista para o Tudo Já Existe, ela ressalta a importância das mulheres no esporte e conta suas expectativas para o mundial.

A estudante Ellen Larissa Bail, de 21 anos, é uma das mulheres que representarão o Brasil nas Olimpíadas do Xadrez, na Rússia. Ela ficou em quarto lugar no campeonato brasileiro, em que recebeu o título de Mestre Nacional de Xadrez. Agora, ela se prepara para a Women’s Chess Olympiad, as olimpíadas do esporte, que acontecerá no ano que vem. 

Ellen é catarinense, mas mora em Curitiba por ser aluna da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A jovem divide a sua paixão pela Fisioterapia com o xadrez, que está presente em sua vida desde os seis anos de idade. Aos 11, começou a jogar nos campeonatos estudantis e catarinenses, e, aos 14, já era profissional contratada pela cidade de Franca (SP). 

Hoje, Ellen compete em torneios paranaenses e nacionais e, em entrevista para o Tudo Já Existe, conta que está ansiosa para o mundial. “Estou ansiosa para acompanhar de perto os melhores jogadores do mundo representando seus países, e pretendo dar meu melhor levando o nome do Brasil. É uma competição muito difícil, então quero aproveitar a oportunidade para jogar boas partidas e ganhar experiência para evoluir cada vez mais”, reconhece. 

Na entrevista, Ellen aborda sua história no xadrez, a sua trajetória no campeonato brasileiro deste ano, bem como a sua visão como mulher no esporte. Confira as perguntas e respostas a seguir:

Como tudo começou

Para Ellen, o xadrez é um esporte democrático, pois não exige materiais caros, e também desafiador: “o que mais me encanta no xadrez é que sempre há algo novo para aprender ou descobrir”. Foto: Devanath via Pixabay.

Isabela Stanga – Como começou a sua história no xadrez? 

Ellen Larissa Bail – Comecei a jogar bem nova, aos seis anos. Ninguém da minha família joga, mas minha mãe me incentivou a fazer aulas de xadrez na minha escola. Eu acabei gostando, e como o professor era também técnico da equipe que representava minha cidade nos campeonatos estaduais e brasileiros, ele me convidou pra treinar com ele e representar o município.

Eu comecei a treinar com uns dez anos e  a jogar competições por equipe com 11/12 anos, que era a idade mínima pra poder participar delas (olimpíadas estudantis, joguinhos abertos de Santa Catarina e jogos abertos de Santa Catarina). Aos 14 anos, fui contratada pela cidade de Franca (SP) para representá-los nos jogos abertos de São Paulo. Com 17 anos, passei em Fisioterapia na UFPR e me mudei para Curitiba, e comecei a jogar as competições paranaenses também.

Desafios e representatividade

Isabela – O que você mais gosta no esporte?

Ellen – Acredito que o xadrez seja um esporte bastante democrático, porque não precisamos de equipamentos caros para jogar (inclusive, hoje em dia na internet é bem fácil criar uma conta e apenas sair jogando). Qualquer esporte requer estratégia e diferentes habilidades, mas o que mais me encanta no xadrez é que sempre há algo novo para aprender ou descobrir: você nunca vai saber tudo sobre o jogo, então sempre há algo em que você possa evoluir.

Isabela – Como é ser uma enxadrista mulher?

Ellen – Em alguns quesitos é difícil porque, proporcionalmente, nossa representatividade ainda é muito baixa, tanto no cenário brasileiro quanto no mundial. Assim como na vida, sofremos com o assédio, desvalorização, falta de representatividade, entre outros. Isso acaba desencorajando várias mulheres, que acabam desistindo de jogar e seguir carreira no xadrez. Mas, nos últimos anos, o meio tem melhorado bastante, e fico feliz em ver cada vez mais meninas e mulheres no esporte.

A série “O Gambito da Rainha” foi um ótimo meio de dar visibilidade ao xadrez, principalmente pela protagonista ser uma mulher. Isso trouxe um reconhecimento muito grande por parte da comunidade externa ao xadrez, e acredito que tenha inspirado muitas meninas mais novas.

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Campeonatos brasileiro e mundial

Isabela – Como foi participar do campeonato brasileiro deste ano?

Ellen – O campeonato brasileiro desse ano foi aberto e teve 11 rodadas (permitindo a participação de qualquer jogadora brasileira), ao contrário dos outros anos, em que jogadoras classificadas disputavam uma “final”. Esse sistema foi escolhido por causa do contexto de pandemia, em que não tivemos muito campeonatos durante o ano. Esse sistema fez com o que o campeonato tivesse mais jogadoras, e a possibilidade das vagas na equipe olímpica atraiu quase todas as jogadoras do top 20 brasileiro, então o campeonato estava muito disputado.

Na primeira metade do torneio acabei perdendo alguns pontos e estava me mantendo entre a 10ª e 15ª posição. Mas como o campeonato tinha muitas rodadas, consegui fazer uma boa segunda metade do torneio, chegando na mesa 1 na décima rodada e conseguindo um empate importante com a então campeã brasileira, MF [Mestre FIDE] Juliana Terao. Antes da última rodada, estava em 5º lugar e precisava ganhar para ficar em 4º e garantir a vaga olímpica. Felizmente, consegui a vitória, a 4ª colocação e a classificação para a equipe olímpica.

Isabela – Quais são as suas expectativas para o campeonato em Moscou?

Ellen – As olimpíadas de xadrez são o maior festival enxadrístico do mundo, e a experiência com certeza será incrível. Estou ansiosa para acompanhar de perto os melhores jogadores do mundo representando seus países, e pretendo dar meu melhor levando o nome do Brasil. É uma competição muito difícil, então quero aproveitar a oportunidade para jogar boas partidas e ganhar experiência para evoluir cada vez mais.

Reportagem de Isabela Stanga, sob supervisão de Ana Flavia Silva.