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De kimono e cabelo afro, mestranda brasileira se forma no Japão

Mari Melo saiu de São Paulo para se formar em uma das universidades mais prestigiadas do Japão. Sua foto de formatura em trajes típicos nipônicos viralizou nas redes sociais.
Mari Melo saiu de São Paulo para se formar em uma das universidades mais prestigiadas do Japão. Sua foto de formatura em trajes típicos nipônicos viralizou nas redes sociais.

Marina Melo, de 29 anos, não imaginava que ia ganhar tanta repercussão nas redes sociais. Assim que postou sua foto de formatura, com trajes japoneses e cabelo afro, viu sua conquista ser comemorada por milhares de pessoas. “Quem é essa gente toda aqui?”, brinca ela. Mestranda, concluiu seus estudos na Universidade de Tohoku, uma das mais tradicionais universidades do país.

A jovem nasceu em Itaquera, onde morava ao lado de um lixão. Mas, aos 15 anos, se mudou para a Vila Carrão e passou a conviver com imigrantes e descendentes japoneses que vivem na região. Desse modo, logo ela se apaixonou pelos quadrinhos, pela língua e pela cultura japonesa. 

Desafios para estudar japonês

Contudo, em entrevista à BBC News, ela conta que não foi fácil seguir sua paixão pela cultura nipônica. Isso porque ela tentou entrar em um curso de língua japonesa aos 17 anos, mas não foi aceita. Quando disse que não era descendente, foi questionada. “Eles disseram: ‘Ah, mas então por que você quer estudar japonês? Infelizmente, não vai ter vaga para você, não. Melhor dar a vaga para alguém que vai aprender e usar a língua japonesa, você não vai’. Saí chorando de lá”, expõe. 

Na época, Mari estudava em uma escola particular graças a uma bolsa por desempenho. Dessa forma, decidiu aprender inglês e deixar o japonês para outra oportunidade.

Em 2010, ela passou no vestibular da Universidade de São Paulo (USP), no curso de Letras. Decidida a seguir seu sonho, escolheu estudar japonês. “Pela primeira vez, ninguém me questionou ‘por que japonês?’ Foi um momento incrível”, lembra.

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Vivendo a cultura nipônica

Marina conta à BBC que nunca enfrentou preconceito por ser mulher, nem por ter cabelo afro no Japão. Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução.

Marina conseguiu um intercâmbio durante a sua graduação e, assim, foi para o Japão. Foi sua primeira viagem de avião. “Nunca imaginaria que, um dia, estaria no Japão. Até então, o máximo, o mais distante que tinha conseguido ir foi à USP”, conta.

Depois de formada, ela passou a desenvolver estudos sobre mangás (histórias em quadrinhos japonesas) e a cultura pop japonesa durante a Segunda Guerra. Além disso, ela também se interessava por análises do estereótipo feminino nos mangás Shōjo. Ademais, trabalhou em uma associação cultural nissei em Osasco, sendo a única não descendente no centro.

De volta ao Japão

A jovem se casou com Júlio César da Silva do Nascimento, de 29 anos, também graduado em Letras na USP e intercambista. Em 2018, ele conquistou uma vaga no Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão (Mext). Assim, ele iria participar do programa de pós-graduação em Estudos Japoneses Globais na Universidade de Tohoku.

Mari e seu marido Júlio estudaram Letras na USP, e depois de formados, voltaram juntos ao Japão. Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução.

Dessa forma, Mari, que desejava morar no Japão novamente, escreveu a um professor que desejava que fosse seu orientador de mestrado. E não é que ele aceitou recebê-la? Depois de um semestre como aluna ouvinte, a mestranda fez o processo seletivo e passou para o curso de pós-graduação. 

Na universidade, a mestranda pesquisou o feminismo japonês no século 19, com foco na autora Kishida Toshiko, uma das primeiras feministas do país. “Ela era questionadora, fazia perguntas: ‘Mas quem determinou essas regras?’, ‘Quem disse que deve ser assim?’”, explica.

Formada novamente, a brasileira conta que quer continuar sua formação. Assim, seu objetivo é fazer um mestrado para ser professora e fazer a diferença. Que mulher!

Reportagem de Isabela Stanga, sob supervisão de Ana Flavia Silva.