Uma vez me disseram que não parecia que eu tinha feito o trabalho que eu tinha acabado de entregar. Aparentemente, estava “bom demais” para ser escrito por mim, uma jovem estudante do Ensino Fundamental. Isso nunca aconteceu com nenhum colega menino.
No Ensino Médio, eu prestava atenção nas aulas e gostava de estudar. Mas como eu era menina, eu era estranha, que não tinha vida. Vai viver um pouco, menina. Namorar. Tirar um pouco a cabeça desses livros. Isso, é claro, nunca aconteceu com nenhum dos meus colegas meninos.
Quando comecei a sair de casa, ir para a faculdade, aí sim o pior começou. Pegar ônibus de short? Nem pensar. Eu e muitas colegas de turma passamos calor nos dias mais quentes do ano por estarmos de calça. Isso quando o “problema” não são as estrias e celulites, que ainda são vistas como aberrações nos corpos femininos e tiram a coragem das meninas de usarem o que querem.
“Parabéns pelo seu dia!”. Parabéns pelo que? Por temer cada esquina escura no seu caminho? Por não ser considerada igual a um homem? Nós não queremos parabéns, mas respeito.
O que nos faz ser mulheres? Não é a delicadeza, nem a feminilidade, nem o “jeito meigo de ser”. É a força e a potência que temos, apesar das dificuldades que enfrentamos.
Crônica de Isabela Stanga, sob supervisão de Ana Flavia Silva.