A discussão sobre a importância do feminismo no enfrentamento à violência doméstica contra a mulher dá o ponta pé de uma iniciativa ousada. Com união e diálogo, um grupo de empresárias e mobilizadoras sociais pretende impactar 1 milhão de pessoas durante o outubro rosa. A ideia é aproveitar a agenda de conscientização ao câncer de mama para adicionar à pauta questões relativas ao protagonismo feminino.
E com o objetivo em mente, elas somam forças. Apoiadas por 25 organizações do país, o grupo lançou nesta terça-feira (06) o “UMA” – Movimento Integrado para o Empoderamento das Mulheres. O evento que deu início ao projeto foi transmitido às 19h, pela internet. Além desta, uma série de lives serão realizadas ao longo deste mês (leia mais adiante), abordando temáticas caras ao momento atual e de pertinência não apenas ao movimento feminista.
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Discussão urgente
A discussão que abre a primeira das lives do UMA não poderia ser mais latente. Com a pandemia, apenas no primeiro mês de isolamento social, cresceram em 40% as denúncias de violência contra a mulher recebidas no canal 180. Os dados são uma comparação dos registros de abril de 2019 e 2020 e foram extraídos de relatório do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH).
Luiza Brunet, empresária e ex-modelo, sentiu na pele as feridas provocadas pela violência contra a mulher. Abusada sexualmente aos 12 anos e vítima de agressão doméstica do ex-companheiro, o empresário Lírio Parisotto, em 2016, ela passou a atuar no enfrentamento a este tipo de crime.
Luiza será uma das vozes na live promovida pelo movimento UMA. Ela, que afirma ter sido discriminada quando fez a denúncia contra Lírio, acredita ser preciso que as mulheres motivem-se a relatar os abusos. “Denunciando, essa questão se manterá viva. Precisamos fortalecer as mulheres a tomarem coragem e denunciar sempre”. A convidada da transmissão vê como fundamental ações que promovem essa ideia, “é um problema de grande magnitude no nosso país”, conclui.
“Os réus que cometem esse tipo de delito repetem um comportamento que aprenderam por gerações e gerações. [Uma ideia de] que a mulher é seu objeto e sua propriedade.”
Gabriela Manssur, promotora e idealizadora do Projeto Justiceiras.
O Projeto Justiceiras, da promotora Gabriela Manssur, é uma das ações integradas ao UMA. Gabriela entende que a questão do abuso está associada a um machismo estruturante em várias esferas. “Além da violência em si, a violência de gênero vem ‘justificada’ por anos e anos de reconhecimento do próprio Direito. Reconhecimento de que a mulher não era um sujeito a ser protegido e sequer tinha autonomia de vontade”, ressalta.
Unidas elas são mais fortes
Além do projeto Justiceiras, outras iniciativas com atuação em causas da mulher também apoiam o movimento UMA. Desde o Poder Público, passando pelo direito, às frentes de representação na ciência e organizações empresariais, são dezenas de atores unidos na corrente do empoderamento feminino. E o propósito por trás do projeto é este mesmo: a união do público feminino nas causas inerentes à mulher.
A ação vem sendo co-criada com várias líderes de grupos das mulheres e comandada pelo MEX Brasil (Espaço Mulheres Executivas) e Grupo Mulheres do Brasil.
A presidente do MEX Brasil, diretora da Lapidus Network e também líder do Núcleo Curitiba do Grupo Mulheres do Brasil, Regina Arns, vê como estratégico o surgimento do UMA neste momento. “A pandemia enfatizou ainda mais as desigualdades de gêneros não apenas no Brasil, mas no mundo todo. É consenso comum que as mulheres estão sendo mais impactadas com o desemprego”.
Regina é a idealizadora do movimento e vê na união a solução para os problemas enfrentados pelas mulheres. “Os homens, a sociedade, as empresas também estão sendo convidados a refletirem sobre as diversas causas e propostas concretas para a resolução das dores que permeiam as vidas delas”, afirma.
Esforços para um futuro mais igualitário
Um futuro em que as mulheres estejam em mesmo patamar que os homens é, não apenas um anseio do movimento, mas uma pauta que o UMA pretende colocar na agenda. “Precisamos começar agora um movimento mais forte que irá assegurar um futuro mais igualitário, seja no âmbito da tecnologia, da política, da liderança e de outras esferas da nossa sociedade”, diz Silvana Pampu, membro do Comitê Executivo do Movimento UMA.
O cronograma do projeto foi desenhado para contemplar, simultaneamente, temas-chave: saúde e bem-estar; carreira e empreendedorismo; direitos femininos; e posicionamento da mulher nas ciências, tecnologia, engenharia e matemática.
“Vale salientar que esses eixos foram criados a partir dos princípios do Empoderamento Feminino da ONU”, pontua Silvana.
Agenda de Lives
Em 30 dias, o UMA vai levar a cabo uma série de transmissões ao vivo pela internet inteiramente dedicadas a questões femininas e de equidade de direitos. “Serão realizados debates, apresentações, cases inspiradores, lives e Webinares”, esclarece Solange Fusco. Participante do comitê executivo do movimento, ela também é diretora da 4Trust Comunicação.
Em todas as transmissões, o público vai conhecer mulheres e iniciativas relevantes no propósito de promover mais igualdade e direitos. “Existe um grande número de grupos, organizações e entidades que fazem um trabalho valioso em prol da mulher. Muitas vezes essas iniciativas nem são conhecidas ou reconhecidas pela sociedade”, afirma.
Todos os eventos serão conduzidos por nomes locais e personalidades do cenário nacional. As iniciativas, por conta da pandemia, serão totalmente on-line. No Facebook e site do Movimento UMA é possível conferir a agenda completa. O canal do youtube do movimento também vai transmitir os conteúdos online.
Parceria
O Tudo Já Existe participa do evento por meio de sua fundadora, a jornalista Ana Flavia Silva, que coordena as transmissões promovidas pelo movimento UMA.
Reportagem de Higor Augusto, com supervisão de Ana Flavia Silva.