Através de personagens mulheres, a autora retrata a história de seu país e seus costumes sem interferência dos preconceitos ocidentais.
Nesta semana, a autora Paulina Chiziane recebeu o Prêmio Camões, considerada a maior premiação da literatura em língua portuguesa. Em 1990, foi a primeira mulher de Moçambique a publicar um romance, e, em sua obra, trata dos costumes de seu país através do protagonismo feminina.
De acordo com a ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, os jurados escolheram Paulina com unanimidade. O júri destacou sua vasta produção e percepção crítica, bem como a importância que a autora dedica aos problemas da mulher africana.
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O protagonismo feminino em suas obras
A primeira obra de Pauline a se tornar mundialmente famosa, “Niketche: uma história de poligamia”, retrata o machismo presente no país por meio da história de uma mulher chamada Rami. Além disso, neste livro, Paulina insere também uma leitura não preconceituosa, para além da visão ocidental, sobre a poligamia.
Outro destaque da autora é “O alegre canto da perdiz”, por meio do qual reconstrói a história de Moçambique através da vida de três gerações de mulheres. Em entrevista para a Revista Fórum, Paulina reforça seu desejo de dar voz aos seus personagens, para que eles falem por si próprios.
“As pessoas de Moçambique não conhecem o curandeiro. O que se sabe, se lê sobre eles, foi escrito por antropólogos e sociólogos no tempo colonial. É a visão eurocêntrica falando sobre um africano. Depois surgiram alguns outros livros um pouco melhores sobre esse tema, mas ainda são textos de academias ocidentais, com uma série de estereótipos para descrever esses indivíduos”.
Reportagem de Isabela Stanga, sob supervisão de Ana Flavia Silva.