Enfrentando as dificuldades de quem não tem recursos para se manter em uma graduação, Laís Ribeiro Gama fez questão de registrar as fotos de formatura na comunidade. “Quero que o espaço que conquistei dentro da universidade abra o caminho para os meus. Para que os meus saibam que a universidade pública é nossa e que vamos ocupá-la.”
A história de luta em busca pela formação acadêmica se transformou em fotos de alívio e gratidão. A agora assistente social Laís Ribeiro Gama fez questão de que as fotos da formatura da graduação fossem produzidas na Comunidade Irmã Dulce, distrito de Icoaraci, no Pará, onde cresceu. “Eu queria fazer minhas fotos de formatura em um lugar que tivesse significado para mim. Que representasse a minha realidade e tudo que enfrentei para terminar a graduação. No futuro, quando eu olhar para essas fotos verei da onde eu vim, o que superei e aqueles que estiveram do meu lado nessa jornada. Além disso, sei que essa conquista é coletiva, que muitos que moram na baixada e me viram crescer vão vibrar por mim.”
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Acesso à Universidade
Graduada pela Universidade Federal do Pará, a jovem sempre contou com o apoio da família, ainda que não tivessem condições financeiras de ajudá-la. O pai, que não chegou a concluir a terceira série do ensino fundamental, fala com orgulho da filha que estudou na UFPA. A mãe, que também não conseguiu concluir os estudos, nunca duvidou que Laís alcançaria seus sonhos. Na comunidade, ela se tornou exemplo para quem não via na formação acadêmica um caminho possível. “Ninguém deveria passar por tantas dificuldades para ter acesso a educação de qualidade. Faltar aula por não ter dinheiro para o transporte ou andar longas distâncias por não ter transporte público perto da sua casa. Eu sou a exceção e não a regra, porque esse sistema é excludente, feito para pessoas como eu desistirem no meio do caminho”.
Laís entrou na Universidade no curso de Ciências Sociais, através do sistema de cotas sociais. Mas ela queria mesmo era o curso de Serviço Social, para o qual migrou um ano depois, por meio do Mobin (Mobilidade Acadêmica Interna – processo que permite a movimentação de alunos de um curso de graduação para outro). “Embora o mobin seja um processo seletivo de ampla concorrência, eu não esqueço que a minha entrada na UFPA pela primeira vez foi pelo sistema de cotas. Isto não é um favor, mas um direito que proporcionou aos filhos e filhas das classes trabalhadoras adentrar nesse espaço tão elitizado que é o ensino superior no Brasil. Como aluna de escola pública, filha de porteiro e dona de casa, sei muito bem a importância de conquistar esse espaço em uma universidade.”
Sem recursos, mas com pesquisas
E como se manter durante os anos de graduação? “Infelizmente, as condições financeiras da minha família nunca foram favoráveis para eu me dedicar somente aos estudos. Mas encontrei na pesquisa um meio de me manter na graduação”, conta.
Foi a iniciação científica que abriu mais portas para ela aprender, pesquisar e contribuir com a área. “Além de me manter financeiramente na graduação, essa oportunidade me fez ver a importância da pesquisa na formação acadêmica e para sociedade. Em 2020, ganhei o prêmio de destaque científico da UFPA, com o relatório de pesquisa sobre o coletivo de mães das vítimas do extermínio da juventude de periferia e sua luta por justiça. O trabalho foi orientado pelo professor Jean-François Deluchey. No mesmo ano, passei a ser bolsista de outro grupo de pesquisa, o GEPSS, sob a orientação do professor Reinaldo Pontes. Foi outra experiência enriquecedora e de muito aprendizado”, lembra. Ela ainda integra os dois grupos e agora segue a carreira acadêmica com o ingresso em um programa de mestrado.
Planos para o futuro
Os próximos sonhos incluem a atuação como assistente social e professora universitária, além do reconhecimento como pesquisadora. “Eu amo ensinar e sinto a necessidade de devolver para sociedade tudo que recebi através da educação pública”.
As fotos feitas na comunidade são também um ato de protesto diante dos cortes orçamentários que as universidades públicas vêm enfrentando nos últimos anos.
“Eu quero que os meus entrem na universidade pública e permaneçam. Que saiam com seus diplomas. E que não passem pelas privações que eu passei para ter acesso ao tão sonhado diploma”, complementa.