A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.

Fotógrafo cego que cobriu Paralimpíadas de 2016 deseja fotografar em Tóquio

João Maia, de 46 anos, é cego desde os 29. Sem a visão, ele conta com os outros sentidos para fazer o que ama: fotografar.
João Maia, de 46 anos, é cego desde os 29. Sem a visão, ele conta com os outros sentidos para fazer o que ama: fotografar.

Cerca de 17 anos se passaram desde que João Maia perdeu a visão. Nascido em Bom Jesus do Piauí, o fotógrafo mora em São Paulo desde adolescente, onde descobriu que não podia mais enxergar. Mas isso não o impediu de ter a vida que gostaria de ter: hoje, ele é fotógrafo e deseja cobrir as Paralimpíadas de Tóquio, no Japão.

Em 2016, João foi destaque na competição do Rio de Janeiro, pois cobriu os Jogos Paralímpicos como fotojornalista. Sua história apareceu em mais de 30 veículos de imprensa e, desde então, ele mostra como é possível fotografar sem a visão.

 Para a BBC, João conta que se baseia em suas demais percepções para tirar uma fotografia. “Quando vou bater uma foto na Paralimpíada, sinto a conexão de sons, o disparo da prova, o som da batida do atleta correndo, o som da torcida. Eu transformo toda essa composição de sons em imagens, por isto minha fotografia é cega”, expõe.

Viagem para o Japão

A sua primeira experiência fotografando os Jogos Paralímpicos foi no Rio, em 2016. Foto: João Maia.


Mas o fotógrafo segue otimista e acredita que vai conseguir realizar esse sonho. “Vou ao Japão para, mais uma vez, levantar esta bandeira. Quero empoderar e mostrar que há uma luz no fim do túnel, um caminho a ser traçado para que as pessoas com deficiência possam ter autonomia, segurança e liberdade para serem o que quiserem, para terem oportunidades de se tornar um profissional em qualquer área que desejarem”, explica à BBC.

Paixão interrompida

O interesse pela fotografia surgiu ainda na juventude, aos 14 anos. Isso porque, conversando com o pai de um amigo, começou a trocar ideias sobre o ramo. Além disso, seu professor tinha uma câmera profissional, o que inspirou João a pedir manuais para empresas de câmeras. Depois, ganhou uma câmera do irmão e passou a tirar fotos em seu tempo livre.

Além dos Jogos Paralímpicos do Rio, João também cobriu a corrida São Silvestre e Paralimpíadas escolares. Foto: João Maia.

Contudo, esse hobby foi interrompido conforme a visão do fotógrafo diminuía. Depois de anos convivendo com miopia e astigmatismo, João teve uma uveíte bilateral – inflamação da úvea, região em que se localiza a íris, o corpo ciliar e a coroide. Dessa forma, foi perdendo a visão gradualmente. 

Na época trabalhando como carteiro, ele perdeu toda a visão do olho direito. No esquerdo, ele ainda tem uma visão “conta dedo”, ou seja, consegue ver vultos de uma distância de até 1,20 metros. Em entrevista à BBC, ele conta que o processo de adaptação não foi fácil.

“Foi muito difícil. Eu tinha baixa visão, pensava que estava enxergando um pouco e não me aceitava como deficiente. Então me dei conta de que não conseguia mais ler, não podia pegar um ônibus ou andar à noite sozinho”, explica.

Veja mais boas notícias: Zapata Filmes lança primeiro filme latino interativo em junho

Retorno e superação

Depois de uma difícil fase de adaptação, João retomou os seus desejos. Dessa maneira, competiu por sete anos como atleta de atletismo paralímpico antes de ser fotógrafo. Essa experiência, segundo ele, o ajuda a identificar as cenas que fotografa.

O fotógrafo segue firme no sonho de ir à Tóquio fotografar a Paralimpíada deste ano. Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução.

“Quando vou fotografar uma prova de atletismo de 100 metros de velocidade, por exemplo, eu me posiciono na área restrita e peço para a pessoa do meu lado descrever o ambiente. Sei qual atleta quero fotografar e peço que me digam em que raia ele está, então posiciono a câmera”, descreve.

Hoje, ele mora sozinho e vive bem graças à tecnologia. Firme em seus objetivos, ele prova ao mundo todo como é possível ver, mesmo sem enxergar.

Reportagem de Isabela Stanga, sob supervisão de Ana Flavia Silva.

Mais sobre → · ·