Quando o ano letivo da Universidade Federal do Paraná começar, a jornalista Adriana Czelusniak vai levar o filho, Gabriel Czelusniak Cabrera, de 17 anos, para a aula. E vai ficar lá com ele. Isso porque ela também é caloura do curso de Pedagogia e vai fazer a formação ao lado do filho, no período noturno. Os dois passaram juntos no vestibular 2023 da UFPR – e a comemoração das vagas teve direito até a banho de lama em meio a muitas pessoas, algo não muito comum na vida do adolescente, que tem autismo.
“Eu não tinha nenhuma expectativa de passar, muito menos do Gabriel ser aprovado já que era a primeira vez dele fazendo vestibular. Eu estava tensa de como seria a hora de fazer as provas, pois eram horas que ele teria que ficar sentado”, conta Adriana. A inscrição da mãe foi com foco em acompanhar o filho. “O histórico escolar dele sempre foi de adaptações. Antes do diagnóstico, passamos por muitas dificuldades. Ele não conseguia, por exemplo, comer com as mãos – precisava sempre de garfo e faca, mas na primeira escolinha eles não aceitavam. Então, como ele não pegava na comida, ficava sem comer”, lembra. Muitos outros desafios foram vencidos. A família teve até matrícula recusada em quase dez escolas por causa do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
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Transtorno do Espectro Autista
Segundo o Ministério da Saúde, o TEA “é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades”. Na prática, a pessoa com autismo pode ter dificuldade de comunicação, evitar olhar nos olhos do outro e desenvolver atividades repetitivas – como brincar sempre com o mesmo brinquedo, por exemplo. Dependendo do grau do transtorno, passar horas em um ambiente fechado, como a sala de aplicação de uma prova de vestibular, pode ser um tormento.
É proibido proibir
Desde 2012, a lei Berenice Piana proíbe que escolas recusem a matrícula de alunos com autismo. O texto prevê que o gestor escolar ou autoridade competente que recusar a matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de três a vinte salários mínimos. Em caso de reincidência, pode haver a perda do cargo.
Adriana conseguiu um atendimento especial para a prova. Ela e o filho fizeram o exame em uma sala com menos pessoas – eram cerca de sete a oito vestibulandos. Mas era preciso chegar com uma hora e meia de antecedência. “Para pessoas com autismo, isso é muito difícil. Ele ficou se balançando, batendo palmas. Deu para perceber que isso tirou a atenção de outros alunos ali, que tinham outras deficiências”, relata. Além disso, a inscrição, que poderia ser para uma vaga especial, não deu certo. Por isso Gabriel participou da ampla concorrência e conseguiu uma das 80 vagas disputando com outros estudantes típicos.
A dupla se jogou na lama para celebrar. Foi a primeira vez, desde 2019, que a Universidade promoveu o tradicional banho de lama para os calouros. Por causa da pandemia, a comemoração foi cancelada em 2021 e em 2020. Agora, eles estão organizando a nova rotina. Adriana é também estudante de psicologia e vai conciliar as duas faculdades ao mesmo tempo. Gabriel vai seguir provando que as diferenças podem até representar dificuldades, mas não o impedem de alcançar suas conquistas.
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