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Modelo ex-refugiada abandona as passarelas para desenhar roupas para muçulmanas

Modelo Halima Aden nasceu em um campo de refugiados do Quênia e sentia não ser respeitada nas passarelas ocidentais.
Halima Aden, que nasceu em um campo de refugiados do Quênia, sentia não ser respeitada nas passarelas ocidentais. Assim, decidiu focar nas roupas muçulmanas, ramo em expansão no mercado da moda.

Aos 23 anos, Halima Aden decidiu largar tudo. A modelo, que nasceu em um campo de refugiados no Quênia, nunca se sentiu confortável como modelo de marcas ocidentais. Isso porque existem práticas do mundo da moda que não respeitam seus valores. 

“Desde que eu era pequena, a frase ‘não mude você, mude o sistema’ me levou a fazer tantas coisas”, disse em entrevista à Agência AFP. Para ela, dar espaço para as mulheres muçulmanas é valorizá-las e também os seus valores, e é exatamente isso que ela busca fazer. Assim, ela largou as passarelas e, agora, vai desenhar roupas para as mulheres de sua cultura. 

Halima divulgou em suas redes sua decisão de deixar os desfiles em novembro do ano passado, e foi muito elogiada por sua atitude, já que é uma das primeiras mulheres a seguir por este caminho.

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“Não mude você”

Para a AFP, Halima descreve quais atitudes da indústria de moda a deixavam desconfortável, como a troca de roupa em frente a todos. “Sempre me deram um local mais privado para eu poder me trocar, mas na maioria das vezes, eu era a única a poder me beneficiar de um pouco de intimidade”, lembra. 

“Eu via as minhas jovens colegas tirando as roupas em público, na frente de jornalistas famosos, cozinheiros, costureiros e assistentes. Era muito chocante”, conta. A modelo expõe também que suas tradições, como o uso do hijab, o véu que cobre a cabeça das muçulmanas, eram ironizadas por algumas marcas. Por exemplo, uma das empresas para as quais desfilou fez Halima trocar o seu véu por uma calça jeans na cabeça. Segundo Halima, isso não é uma questão de estilo, mas sim de desrespeito a uma cultura.

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“Mude o sistema”

Depois de tantas experiências, Halima foca agora nas roupas muçulmanas, chamadas também de “roupas modestas”. Foto: @halima/ Instagram

Sair da indústria que a fazia tão mal foi um alívio para a modelo. Mas ela não apenas deixou a moda: queria também contribuir para ela. Desse modo, Halima firmou parceria com a marca turca Modanisa, para a qual vai desenhar roupas para as mulheres muçulmanas. 

Também chamada de “moda modesta”, o ramo faz sucesso em países como Irã, Turquia e Arábia Saudita. Contudo, aos poucos, está se espalhando para centros como Londres, Moscou e Ryad. “A moda modesta está decolando, é uma corrente que dura há algumas centenas de anos e continuará existindo por mais 100 anos”, finaliza Halima para a AFP.

Reportagem de Isabela Stanga, sob supervisão de Ana Flavia Silva.