De origem humilde, Ina precisou trabalhar como empregada doméstica com apenas 13 anos. Mesmo com todas as dificuldades, nunca desistiu dos estudos
Foi no dia 27 de julho de 2018, que Ina Márcia de Oliveira Sousa conquistou o tão sonhado diploma de cirurgiã-dentista. A ex-aluna do curso de Odontologia da Uniube ingressou na graduação somente aos 42 anos, mas para conseguir chegar à Universidade percorreu um caminho complexo. “A única coisa que transforma o ser humano é o conhecimento, é a informação“, reflete Ina.
Órfã ainda na adolescência, precisou trabalhar desde cedo para atingir os objetivos que tinha. Com apenas 13 anos de idade, Ina iniciou o trabalho como empregada doméstica para conseguir manter a si mesma e os irmãos. “Eu vim de uma origem da periferia aqui de Uberaba. Quando perdi minha avó, que era meu tudo, tive que começar a trabalhar, pois a nossa família não podia assumir nós três, eu e meus irmãos. Então, cada um foi para um tipo de trabalho e assim seguimos a vida, mas eu nunca desisti de estudar. Eu sempre ouvia minha avó dizer que a única coisa que as pessoas nunca vão te tirar na vida é o que você aprende, o que você estuda e adquiri para você; e isso eu fiz”, compartilha.
A educação transforma
Após 11 anos trabalhando como doméstica, Ina decidiu fazer cursos técnicos para melhorar a qualidade de vida. “Não consegui trabalhar no primeiro curso que fiz, mas, aos 24 anos, me casei e comecei um novo curso. Meu esposo já era protético e eu decidi, então, fazer um curso de Aperfeiçoamento para Aparelhos Ortopédicos e Ortodônticos, com uma escola de Ribeirão Preto, que veio uma única vez em Uberaba, ou seja, a vida me criou oportunidades para que eu chegasse muito perto da Odontologia”.
Ina se tornou protética e começou a trabalhar na área. O marido, que também tinha o sonho de ser dentista, prestou todo apoio antes, durante e após a graduação, que também foi feita na Uniube. “Eu me lembro bem que passava em frente à Universidade e falava: um dia vou estar aqui. Meu sonho já era vir e fazer graduação. Com meu esposo no curso, me apaixonei ainda mais pela área, pois eu o ajudava nos trabalhos, participava de tudo. Fui cultivando aquele sonho”, continua.
O sonho se tornou ainda mais próximo de ser realizado quando Ina soube que poderia ingressar na Instituição pelo PROUNI. “Eu fui a uma reunião de escola do meu filho e pela primeira vez eu ouvi essa palavra: PROUNI. Eu perguntei o que era para o diretor e ele me explicou. Naquele mesmo dia, eu cheguei em casa e falei para meu esposo e meus filhos: ‘eu vou fazer graduação’. Eu comecei a fazer um cursinho preparatório, prestei o ENEM e no dia 28 de julho eu estava aqui, naquele exato dia fazia 10 anos que meu marido tinha se formado aqui”.
Apoio durante a graduação
Com o ingresso, mais um obstáculo: a aprendizagem. “Os primeiros anos são muito específicos e como eu não tive oportunidade de fazer todo o colegial, tive muita dificuldade, mas eu encontrei professores com muita sabedoria. Eles sabiam que eu era casada, tinha filhos, o que torna um pouco difícil para uma mulher, aos 42 anos, entrar em uma Universidade. A equipe que estava aqui dentro foi a que mais me auxiliou e o meu sonho só se tornou realidade por conta deles. Aqui dentro, nós somos amparados com conhecimento, informação, boa didática e ótimos profissionais, porque os professores pegaram na minha mão e me guiaram, eu não era a melhor aluna, mas eu andava com os melhores”, destaca Ina.
A partir daí nada mais segurou Ina de alcançar o tão sonhado diploma. “O mais emocionante foi no dia de pegar o canudo. Eu achei que já tinha passado por todas as emoções, mas nesse dia, eu não consegui conter as lágrimas. Naquele momento, nós nos tornávamos cirurgiões-dentistas e eu senti que realmente estava concluindo. A partir daquele momento, a Uniube realmente concretizava o meu sonho e fazia de mim uma cirurgiã-dentista”.
“Aqui não se forma, aqui se transforma”
“Para essa menina que aos 13 anos tinha sede de aprender, eu digo para ela: ‘ainda bem que você não desistiu, ainda bem que você acreditou em você, embora o mundo dissesse não, você fechava os olhos e os ouvidos a esse não do mundo e acreditava que a única forma de liberdade é o conhecimento’. Eu corri muito atrás desse conhecimento e essa menina acreditou, essa menina que me impulsionou, todos os dias, essa menina que chorava, que tinha sede de saber, ela que me trouxe aqui. Nós duas caminhamos juntas, sempre”, diz emocionada.
A herança da Educação
E para quem pensa que a missão de Ina com a educação terminou na formatura, se engana. Neste mês, o filho mais velho da dentista, Rafael de Oliveira Sousa, foi aprovado no curso de Medicina da Uniube. “A melhor forma de se educar realmente é pelo exemplo e eles me disseram que de tanto me verem estudando aqui em casa, as madrugadas a fio, os finais de semana concentrados, e que todos os esforços valeram a pena. E hoje, eu me realizo nos sonhos dele e agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de ver ele entrar na Universidade para se preparar para um futuro muito melhor ao qual eu sonhei um dia para a nossa família”, finaliza.
Com informações da assessoria de imprensa