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Música faz jovem relembrar memórias perdidas após acidente

Aos 19 anos, esqueceu das pessoas que conhecia ao sofrer um acidente. Dez anos depois, uma música trouxe as lembranças de volta.
Aos 19 anos, o britânico sofreu um acidente e perdeu suas referências culturais e esqueceu das pessoas que conhecia, inclusive os próprios pais. Contudo, dez anos depois, uma música trouxe suas lembranças de volta.

Em uma noite londrina, Thomas Leed, que na época era um jovem de 19 anos, saiu para encontrar um amigo. Contudo, ele acabou sofrendo um acidente – foi atingido por um carro e bateu com a cabeça no chão. Liberado do hospital no dia seguinte com apenas ferimentos superficiais, o britânico jamais imaginaria as consequências que carregaria pelo resto da vida – e como uma música poderia transformá-la.

Um dos policiais que socorreu Thomas ligou para o centro hospitalar, a fim de ter notícias suas, e ficou surpreso em saber que ele tinha tido alta. Isso preocupou a mãe do jovem, Jacqueline. Em entrevista à BBC, ela conta que “a impressão que ele tinha é que ninguém poderia sair vivo daquela situação”. Assim, no dia seguinte, levou Thomas a um pronto socorro e pediu para fazerem uma tomografia cerebral. 

Os médicos constataram um coágulo sanguíneo em seu cérebro. Caso Jacqueline não tivesse feito algo, seu filho teria menos de um dia de vida. Thomas, então, passou por uma cirurgia de emergência, que o salvou, mas ao mesmo tempo também o perdeu.

A perda da memória

Após o procedimento de retirada do coágulo, o jovem se sentiu perdido e não reconhecia seus pais e seus cinco irmãos que foram visitá-los. A família, entretanto, atribuiu a confusão à morfina. 

“Ele estava andando, nós assumimos que ele estava bem”, lembra Jacqueline à BBC. Contudo, Thomas não era mais o mesmo: não se lembrava da casa onde cresceu e até sua personalidade mudou. Antes, ele era mais reservado, porém depois do acidente se tornou mais carinhoso e animado. Seus planos para o futuro mudaram, uma vez que antes ele queria ser designer, mas não se identificava mais com o desenho.

Após o acidente, o jovem perdeu suas memórias e também seus planos para o futuro. Foto: Thomas Leed/Arquivo Pessoal

Thomas relata que não se sentia mais a pessoa que um dia foi. “O menino que eu era não parecia mais real que um antecessor. Você sabe que ele existe, vê fotos, mas não parecem reais”, explica. 

Dessa forma, enquanto seus amigos construíam suas famílias e carreiras, em seus 20 e poucos anos, ele ainda estava perdido. Grato por estar vivo, entretanto, inseguro de ter que formar uma vida sem se lembrar de suas bases.

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A única pessoa que ele reconhece

Devido ao acidente, Thomas desenvolveu prosopagnosia e perdeu a capacidade de reconhecer rostos. Assim, ele não consegue nem diferenciar seus pais de uma multidão. Isso complicou a sua situação, principalmente quando ele começou a namorar.

Em 2010, o britânico conheceu online aquela que seria sua futura esposa, porém, depois de seu primeiro encontro, Thomas lhe disse que não conseguiria lembrar dela no dia seguinte. Mas Sophie, a moça por quem ele se apaixonou, decidiu ajudá-lo. 

Uma semana depois de se conhecerem, ela pintou o cabelo de vermelho sangue e, pela primeira vez, o jovem conseguia reconhecer alguém à distância. Hoje casados, com duas filhas, Sophie ainda é a única pessoa que ele conhece de rosto, e ela nunca parou de colorir seu cabelo.

De acordo com Thomas, nem o rosto de suas filhas lhes são familiares. Dessa maneira, até hoje Sophie é a única pessoa da qual ele se lembra. Foto: Sarah London Photography

Retorno das lembranças

Mais de dez anos depois do acidente, Thomas buscava músicas para a playlist de seu aniversário de 30 anos. Decidiu incluir as que poderiam ser significativas para ele. Desse modo, passou a ouvir as canções de sua infância, mas uma delas foi mais do que familiar. 

De acordo com o neurologista Colin Shieff, as memórias são feitas de reações químicas e incluem várias dimensões, como cheiro, toque e gosto. “Apenas uma memória química pode despertar uma lembrança maior”, explica.

Assim, direto dos anos oitenta, The Whole of the Moon, do grupo The Waterboys, acordou as memórias latentes de Thomas. Repentinamente, ele se lembrou de uma cena de Natal quando era criança, e a recordação lhe despertou uma série de flashbacks. “Foi um momento tão curto, nada foi dito, mas saber que  era real… Era um pouco do começo da minha vida”, expõe à BBC.

Aos poucos, ele foi se lembrando de mais momentos como aquele. “Saber que eu tinha algo real antes do acidente, no começo da minha história, realmente me ajuda a pensar no meu futuro”, finaliza.

Reportagem de Isabela Stanga, sob supervisão de Ana Flavia Silva.

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