O comprador Reinaldo Alexandre de Souza, de 42 anos, transformou uma tristeza de infância em alegrias na vida adulta. Todos os anos, em dezembro, ele organiza uma campanha para arrecadar brinquedos. Na véspera de Natal, Reinaldo se transforma no bom velhinho. Veste calças vermelhas, botas, coloca uma barba branca, touca e leva os brinquedos para crianças em diferentes comunidades na grande Curitiba.
A história começa com Reinaldo criança, nos seus seis/sete anos de idade. “Eu morava numa vila em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. A vila tinha somente uma rua. Aí um certo Natal um Papai Noel apareceu para entregar brinquedos e foi a alegria da turma. Eu estava no meio disso. Ele ia todo ano nessa vila, era um evento muito legal. Eu lembro como se fosse hoje. Os brinquedos mais simples faziam a alegria de todos nós”, recorda, nostálgico.
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No entanto, em um certo ano, o Papai Noel não apareceu. “Eu fiquei esperando e ele não foi. Eu chorei bastante, minha mãe teve que me consolar. Eu comecei a achar que não tinha me comportado, comecei a lembrar as coisas que tinha feito no ano, para justificar o porque ele não tinha ido. Passou um tempo, percebi que isso tinha afetado outras crianças também. Anos depois, quando eu comecei a entender que o Papai Noel era uma fantasia, eu disse para minha mãe: quando eu crescer, eu vou ser Papai Noel”, conta Reinaldo.
Papai Noel solidário
Ao chegar aos 14 anos, Reinaldo decidiu ser o próprio Papai Noel. Começou a arrecadar brinquedos, pedia doações, brinquedos usados, roupa de criança que não servia mais, e foi arrecadando. A primeira arrecadação foi simples, apenas 15 brinquedos. “Eu comprei uma fantasia bem mais ou menos e tentei entregar os brinquedos. Foi meio frustrante porque eu deixei muitas crianças sem brinquedo. Mas eu consegui contagiar as pessoas da minha família, alguns amigos e isso foi crescendo ao longo dos anos”.
Atualmente, Reinaldo consegue arrecadar entre 600 e 700 brinquedos. O empenhado Papai Noel e seus ajudantes têm um grupo definido: os Anjos do Natal. Todos os anos, em dezembro, eles se reúnem para pedir doações, arrecadar brinquedos, fazer compras de brinquedos, embalar todos eles e realizar a entrega. “A arrecadação não é fácil. As pessoas são muito desconfiadas, não botam fé na ação da gente. Temos que peregrinar e mostrar que é real. Hoje em dia acaba sendo mais simples porque as redes sociais permitem esse acesso. Eu falei para a minha família, não vou desistir. Vou manter sempre isso. É muito gratificante ver o sorriso no rosto das crianças depois da entrega”, esclarece.
Gratidão que vem das crianças
Dos quase 30 anos distribuindo presentes, Reinaldo lembra de momentos emocionantes como Papai Noel. “Teve uma vez uma menininha que viu o Papai Noel chegando. De longe ela veio correndo, desde a rua de baixo. Ela tinha uns cinco anos. Chegou correndo e me abraçou, e não largou mais de mim. Tive que fazer as outras entregas com ela no colo. Ela não queria presente, ela queria saber do Papai Noel. Isso que vale, esse resultado final”, recorda.
O Papai Noel também recebe várias cartinhas. Reinaldo faz questão de ler cada uma delas. Umas pedem casa, outras carro para a família. No entanto, uma em especial foi tocante. “A criança escreveu assim: ‘Papai Noel, não quero brinquedo, só gostaria de ter uma Ceia de Natal com a minha mãe e um prato de comida para eu comer.’ Aquilo me tocou. Poxa, a gente se preocupa com brinquedo e tem algo a mais. Eu conversei com a minha esposa, familiares. Compramos cesta básica, peru, coisas de Natal. Fomos no dia 25 na casa dela. Chegando lá, vimos a situação. A mãe não tinha nem fogão para cozinhar. Eu cheguei lá, não foi como Papai Noel. Disse para a menina que o Papai Noel tinha dado uma missão para mim, para atender aquele pedido. Quando ela viu a cesta, a menininha começou a chorar desesperadamente. A mãe convidou a gente para entrar. Entramos em contato com amigos, conseguimos um fogão, botijão de gás. Essa menininha ficou tão feliz, o olhinho dela brilhava”, lembra Reinaldo, emocionado.
Arrecadação que impacta pessoas e contagia
Reinaldo, com sua proposta de Papai Noel, conseguiu impactar muitos amigos com o passar dos anos. Alguns amigos dele também começaram a arrecadar brinquedos e vão em outras comunidades distribuir. “Eles participaram comigo, foram fazer junto as entregas e perceberam a necessidade. O evento que fazemos no fim do ano é aberto. Quem quiser ajudar a embalar os presentes, a arrecadar brinquedos pode vir ajudar”, destaca.
A equipe de Reinaldo é engajada: pai, mãe, esposa, amigos. Todos colaboram para receber brinquedos, roupas, dinheiro – usado para comprar mais brinquedos. “A gente faz a compra [dos brinquedos], faz a prestação de contas. Apresentamos tudo nas redes sociais. Embalamos um dia antes, brinquedos novos e usados, em bom estado. A gente já recebeu boneca sem cabeça, carrinho sem rodas – aí a gente acaba descartando”.
Como participar
Os Anjos do Natal recebem doações até o dia 23 de dezembro. Podem ser doados brinquedos novos e usados em bom estado, roupas infantis. O evento é aberto e qualquer pessoa que esteja disposta a ajudar é bem-vinda. Para participar, basta enviar uma mensagem para o grupo pelo Instagram @anjosdonatalcuritiba ou pelo WhatsApp (41) 99818-9150.