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“Tatuo sentimentos e emoções”: tatuadora ajuda mulheres a esconderem cicatrizes e a aumentarem autoestima

Raquel Gauthier tatua, mas também ouve as histórias de suas clientes, conectando sua energia ao seu trabalho.
Raquel Gauthier tatua, mas também ouve as histórias de suas clientes, conectando sua energia ao seu trabalho.

Aos 24 anos, Raquel Gauthier é tatuadora e ajuda a transformar histórias de mulheres, ajudando-as a superar traumas relacionados às suas cicatrizes. Antes de encontrar o seu estilo, ela se sentia cansada de longas sessões de tatuagem. Entretanto, cobrindo as marcas de suas clientes e conversando com elas, descobriu o que estava destinada a fazer. 

Em entrevista à Universa (UOL), Raquel reconhece que a sua profissão está muito ligada ao emocional, porque trata de traumas. “Tatuo sentimentos e emoções. E tenho sempre que estar preparada psicologicamente para as histórias que ajudo a transformar”, explica.

Além de tatuar, a jovem deseja passar um pouco de sua energia para cada mulher e ajudá-la a ressignificar uma cicatriz de seu passado. “Ao trabalhar com cicatrizes, estamos lidando com algo muito pessoal e aprender a entender a dor da cliente é essencial”, afirma.

O início da carreira

Antes de se tornar tatuadora, Raquel estudou estética e fez um curso de micropigmentação de sobrancelhas. Foto: Raquel Gauthier/ Arquivo Pessoal

De início, Raquel não sabia o que queria fazer. Em 2016, por pressão do pai, ela cursou Estética no Senac, em São Paulo, e atuou em algumas clínicas, contudo não se identificava com a área, então passou a trabalhar como garçonete. 

Entretanto, um ano depois, a jovem conheceu uma pessoa e se mudou para Minas Gerais, para viver uma vida junto dela. Neste tempo, Raquel ficou sem emprego e se dedicou à meditação e ao violão, sonhando com uma futura carreira, sem saber ao certo qual.

Até que ela decidiu fazer um curso de micropigmentação de sobrancelhas em São Paulo – atividade relacionada à estética, mas sem ser tão delicada, segundo Raquel. Sua ideia era fazer o curso e voltar para Minas, mas o relacionamento acabou. Então, ela ficou na capital paulista, passou a testar a tinta da micropigmentação na pele… E encontrou sua paixão: a tatuagem.

Desse modo, ela montou um pequeno estúdio na casa dos pais e começou a atender seus primeiros clientes. “Me aprofundei do jeito que podia nos estudos sobre tatuagem. Via todas as aulas gratuitas que encontrava no YouTube e só precisava de pele para treinar. No começo, cobrava só o custo do material para conhecerem meu trabalho”, lembra.

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A tatuagem de cicatrizes

Como tatuadora de cicatrizes, Raquel explica que existem técnicas específicas para realizar o trabalho. Antes do procedimento, é preciso fazer uma análise da pele que vai receber o desenho, que não é lisa. Ademais, durante a tatuagem, a profundidade do traço deve ser menor do que o convencional. 

“Quando avaliamos a arte para uma cicatriz, levamos em consideração alguns fatores, como: textura, tonalidade e local, porque vamos criar algo harmônico e delicado”, expõe à Universa. A maior parte das marcas que a tatuadora cobre são nos braços, nas pernas e na barriga, resultados de apendicite, estrias, automutilação, abdominoplastia, queimaduras e marcas de uso de fixadores externos.

Muitas das tatuagens de Raquel trazem flores e, assim, possuem caráter sensível. Foto: @raquelgauthier/ Instagram

Mais do que um desenho

Enquanto faz a tatuagem, Raquel abre espaço para suas clientes compartilharem suas histórias e seus traumas. Como as sessões demoram bastante, há tempo para a mulher contar as situações que enfrentou com a sua cicatriz até aquele momento. “Acabo me emocionando com muitas histórias”, conta a tatuadora.

Para a Universa, Raquel lembra de uma das histórias que mais a marcou. Uma cliente de 36 anos tinha sido atropelada aos 13 no quintal de casa, por um carro desgovernado. “Seu corpo ganhou várias cicatrizes e, a partir daquele dia, sua vida nunca foi a mesma. Ela só foi usar blusa que mostrasse partes do corpo depois de ter feito a tatuagem”, recorda.

Assim, mais do que um desenho, a tatuagem representa a superação de um trauma para as mulheres, bem como a recuperação de sua autoestima.

Reportagem de Isabela Stanga, sob supervisão de Ana Flavia Silva.