Juçara Vistuba conta histórias para pacientes do Hospitais Cajuru e Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), há 13 anos. Quando chega com seu jaleco cheio de apetrechos e bonequinhos, além do chapéu vermelho e o sorriso largo, não tem como não alegrar o ambiente. Logo ela começa a contar suas histórias: a da estrelinha verde, do rei e de seu súdito, do príncipe e da princesa… Todas têm uma mensagem inspiradora por trás.
“Gosto de levar uma lição de vida e de esperança para as pessoas. Falo de Deus, não de religião. Às vezes a história coincide com a vida da pessoa e é exatamente o que ela está precisando escutar naquele momento”, conta Juçara.
É impossível não se render às suas histórias e não ativar a imaginação quando ela fala. O poder de um conto é impressionante. Por exemplo, Juçara se recorda de levar esperança para uma senhora, Dona Aparecida, que estava em fase terminal de câncer e muito triste. A contadora de histórias, então, começou a descrever um paraíso para onde dona Cida iria, com muitos anjos e paisagens bonitas. “Eu viajo mesmo, danço, imito os personagens, tento levar a pessoa para aquela realidade”, explica.
Na semana seguinte, quando pediu notícias da paciente, Juçara descobriu que ela tinha falecido, mas estava serena, já sem o medo de antes. Isso ela também fez com o marido, que estava com câncer em fase terminal. “Eu conversei com ele, em seus últimos momentos de lucidez, sobre a morte. Quando chegou a hora, disse a ele ‘vai meu amor, pegue a mão de Jesus’, ele relaxou e expirou calmamente”.
Experiência pessoal
Quem vê Juçara, uma mulher segura e forte, nem imagina que ela também enfrenta suas dificuldades. Depois de dois anos como voluntária, sofreu um assalto em que foi arrastada de cabeça no chão. Assim, passou quase cinco horas desacordada e ficou com dificuldades de visão.
Nesta fase, ela ficou depressiva, pois pensava que não poderia voltar a contar as suas histórias no hospital. Mas, com ajuda do marido e de uma amiga, conseguiu dar a volta por cima e fazer o que mais ama. “Agora eu não posso mais ler as histórias, então as guardo no meu coração e conto com toda a minha energia. Quando você vive a história, ela fica linda de qualquer jeito”, reconhece.
Ela não pensa em parar tão cedo. Inclusive, já avisa Nilza e a equipe de voluntários que eles terão que “aguentá-la” idosa, “de bengalinha”, contando suas histórias nos corredores dos hospitais. “É o que eu amo fazer. Aprendo muito todos os dias. Só tenho a agradecer aos pacientes por escutarem as minhas histórias”.
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Reportagem de Isabela Stanga, sob orientação de Ana Flavia Silva.