Mais de 2 mil ventiladores pulmonares que estavam sem uso por falta de peças foram reparados e devolvidos à rede hospitalar do país. A iniciativa envolveu cerca de 700 voluntários em todo o Brasil. Eles não cobraram nada pelo conserto dos equipamentos. Os aparelhos, também chamados de respiradores, são usados no tratamento pacientes graves de Covid-19. Hospitais de 24 estados e do Distrito Federal foram beneficiados com a ação.
O projeto, chamado de “+ Manutenção de Respiradores”, foi viabilizado por uma corrente formada por empresas, iniciativas sociais e o poder público, que financiaram a ação.
Até 20 mil vidas salvas
Os equipamentos serão cruciais para os internados com sintomas da doença. Um dos envolvidos na iniciativa estima que até 20 mil pacientes sejam recuperados com a reforma dos respiradores.
“Cada respirador ao longo dessa pandemia vai salvar pelo menos 10 vidas. Ao devolver 2 mil respiradores, além do apoio importante que a gente vai estar dando à rede hospitalar brasileira, o mais significativo é que nós vamos estar salvando até 20 mil vidas”, afirma Rafael Lucchessi, diretor-geral do SENAI. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial tem tomado frente na condução da rede responsável pela reforma dos aparelhos.
Trabalho redobrado
Os esforços para consertar os respiradores seguem desde o dia 30 de março. Em pouco mais de quatro meses de trabalho, a iniciativa recebeu 3.989 equipamentos vindos de vários cantos do país. O projeto continua e atualmente faz o reparo de 951 ventiladores pulmonares. Outros 173 estão na fase de calibração, a última etapa antes da devolução ao serviço de saúde.
Para conseguir recuperar tantos aparelhos, muita gente tem trabalhado redobrado, diz o diretor-geral do SENAI.
“O que nós podemos observar é que foi uma grande rede voluntária de técnicos, engenheiros, de profissionais que fizeram hora extra, que se dedicaram, que se imbuíram a recuperar cada equipamento, porque cada equipamento tem uma importância significativa em salvar vidas”.
Rafael Lucchessi.
Iniciativa reduz a necessidade de novas importações
À época em que o projeto tomou forma, o Brasil tinha nos dados oficiais 165 mortos e 4.661 casos confirmados de Covid-19. Na imprensa, já era notícia a falta de respiradores no país. Em reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo no dia 26 de março, um levantamento mostrava que 3,6 mil respiradores estavam fora de operação durante a crise de saúde, que se intensificava.
Com o crescimento da pandemia em território nacional, tinha início uma “corrida” pela compra dos equipamentos. Para Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria, a ideia de fazer reparos em equipamentos sem uso alivia a necessidade de importar novos aparelhos.
“A iniciativa de consertar esse equipamento hospitalar fundamental para salvar as vidas de quem tem as formas mais graves da doença contribui de forma expressiva para o árduo trabalho que está sendo realizado pelos profissionais da saúde e para reduzir a necessidade de importação do equipamento”.
Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
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Investimentos em saúde
Além do SENAI, participam da iniciativa empresas de vários segmentos, como as marcas integradas à aliança Todos pela Saúde. O projeto conta ainda com recursos públicos vindos do BNDES, da Petrobrás e dos ministérios da Saúde, da Economia, e da Defesa. Ao todo, foram investidos R$ 4 milhões na compra de peças usadas no conserto dos aparelhos hospitalares.
Para Rafael Lucchesi, do SENAI, a corrente é positiva. “Estamos vivendo um ponto de inflexão na história da humanidade e vamos extrair muitas lições”, conclui.
A instituição também é responsável por outro programa, o “+ Respiradores”, que incentiva a produção nacional do equipamento. Com a participação de sete empresas, a iniciativa tem capacidade de viabilizar mais de 5 mil respiradores por mês.
Foram aplicados mais de R$ 482 milhões em ações destinadas a prevenir, diagnosticar e tratar os efeitos do novo coronavírus, informa a entidade.
Para onde foi cada respirador
Os respiradores reformados foram distribuídos entre 24 estados e o Distrito Federal, nas cinco regiões do Brasil. Dos mais de 2 mil ventiladores pulmonares recuperados, a maior parte, 683, foi mandada para São Paulo. Além disso, Bahia e Minas Gerais, com 245 e 240, respectivamente, também encabeçam a lista. Já os hospitais paranaenses receberam 32 unidades. Confira abaixo a relação de estados e ventiladores pulmonares recuperados pelo projeto:
UF / Equipamentos recuperados:
(AC) – Acre …………………………………………………… 2
(AL) – Alagoas ……………………………………………… 2
(AP) – Amapá ……………………………………………….. 12
(AM) – Amazonas ………………………………………… 26
(BA) – Bahia …………………………………………………. 245
(CE) – Ceará …………………………………………………. 106
(DF) – Distrito Federal ………………………………… 28
(ES) – Espírito Santo ……………………………………. 22
(GO) – Goiás …………………………………………………. 59
(MA) – Maranhão …………………………………………. 11
(MT) – Mato Grosso ……………………………………… 53
(MS) – Mato Grosso do Sul ………………………….. 76
(MG) – Minas Gerais …………………………………… 240
(PA) – Pará ………………………………………………….. 46
(PE) – Paraíba …………………………………………….. 31
(PR) – Paraná …………………………………………….. 32
(PE) – Pernambuco …………………………………… 25
(RJ) – Rio de Janeiro …………………………………. 79
(RN) – Rio Grande do Norte ……………………. 131
(RS) – Rio Grande do Sul ………………………… 102
(RR) – Roraima ……………………………………….. 15
(SC) – Santa Catarina ……………………………… 53
(SP) – São Paulo ……………………………………… 683
(TO) – Tocantins …………………………………….. 46
Ao todo, foram distribuídos 2007 respiradores, que passaram por reforma com mão de obra de polos do SENAI e recursos de 38 instituições públicas e privadas.
Reportagem de Higor Augusto, com supervisão de Ana Flavia Silva.